OS TUBARÕES no HOTEL GRÃO VASCO
Viseu, 1964-1969
No final do mês de setembro entrou para o conjunto o Carlos Loureiro e com ele mais um instrumento que muito valorizou a banda a partir de então: um teclado. Mas com a entrada do Carlos também o seu Pai, Sr. António Xavier de Sá Loureiro passou a acompanhar-nos e a tomar conta de todas as nossas lides comerciais. E foi ele que fechou o contrato do fim do ano com o Clube de Viseu por 3.500$00 (Baile de Passagem do Ano e Matinée do dia 1/1).
O HOTEL GRÃO VASCO tinha sido inaugurado em junho de 1964. O seu gestor, João Ferreira dos Santos, pessoa muito conhecida na cidade e amigo das nossas famílias, começou a ser muito pressionado pelas elites citadinas para organizar um Baile de Fim de Ano no novíssimo e distintíssimo Hotel Grão Vasco. De hesitação em hesitação lá se resolveu a aderir a tal ideia. A notícia correu célere na cidade esgotando a lotação que ia sempre sendo adaptada face a novas inscrições a quem não se podia dizer não. Nas Pastelarias da Rua Formosa, Horta e Santos, o fim do ano no Hotel era o principal tema de conversas e cochichos. O Hotel preocupado com a Ementa e a lotação da sala deixou para muito tarde o tema da animação musical da festa. Pela novidade e curiosidade em nos conhecer começou a haver alguma pressão para que Os Tubarões animassem a festa. Face ao nosso compromisso com o Clube de Viseu o João Ferreira dos Santos encetou conversações com a Direção do Clube acompanhadas de perto pelo Sr. António Xavier de Sá Loureiro que demoraram alguns dias até se chegar ao consenso possível, embora amargo e contrariado. E nós ficámos a lucrar com um melhor cachet de 4.000$0, só pela noite de fim do ano, sem matinée, e a garantia de que no Carnaval estaríamos no CLUBE de VISEU .
O Hotel engalanou-se para a festa. Preparou a Sala Príncipe da Beira, frontal à Receção, onde apenas cabiam as mesas para os convivas jantarem e cearem naquela noite de fim do ano.
Apesar de no Salão não se ouvir a música foi grande a animação de todos os presentes que vinham até à pista de dança e serpenteavam por todos os espaços a cantarolar e a dançar as marchas populares. Ainda não encontrámos fotos deste evento.
Foi a nossa verdadeira apresentação à Sociedade de Viseu.
... e a festa durou até às tantas!
Mal a notícia do nosso apuramento foi conhecida o GERMANO , fotógrafo de referência da cidade e nosso fotógrafo habitual, programou uma sessão de fotografias que se veio a concretizar no dia 12 de abril no Hotel Grão Vasco.
Desta sessão resultou o postal ilustrado que capeia este "post" e que o Germano adotou e colocou à venda em todas as tabacarias da cidade com grande sucesso.
Eis as provas:
Veja-se o estudo:
O formato do show era composto por um espetáculo de Os Tubarões a que se seguia o desfile de moda que nós acompanhávamos com um fundo musical improvisado ao sabor da evolução do desfile e sob a orientação e o comando em tempo real da apresentadora Maria Leonor.
Desta sessão que esgotou o Hotel Grão Vasco em setembro de 1967 ficam as imagens da Foto GERMANO que o testemunham:
Desde 1963 que o nosso café era o Alvorada na Rua Gaspar Barreiros, 22. Gerido pelo Sr. José Correia e esposa, exímia cozinheira, passávamos ali todo o tempo livre. E a confiança era tanta que o café servia também como nosso escritório pois era o ponto de contacto para muitos dos nossos contratos.
A partir de 1967 passámos a frequentar o Hotel Grão Vasco. Ao tempo já mobilizávamos alguns fãs e amigos vivenciando inesperadas e espontâneas tertúlias culturais após o jantar – "Natália Correia e Ary dos Santos"; "o livro Vermelho do Mao"; "como se vive na clandestinidade", "a arquitectura do Séc.XVI" entre outras - encontros e brincadeiras que muito animavam o Bar do Hotel que raramente passou a fechar antes das 24H00. Ali vivíamos agradáveis momentos de convívio que muitas das vezes estendíamos aos Hóspedes do Hotel, improvisando Bailes e muita animação prolongada até madrugada. E não foram raras as vezes em que, face à reclamação de hóspedes mais sensíveis ao barulho, tivemos de ir "em excursão" até S.João de Lourosa, à sempre disponível casa da Laurinha.
- Foram estes momentos que levaram a Administração do Hotel a ponderar a construção de uma “BOITE”, o que se veio a concretizar nos anos 70, já nós estávamos a cumprir o SMO – Serviço Militar obrigatório, essa realidade da Guerra Colonial que forçou o fim da nossa carreira musical.
Ficam o nosso Bem Haja, as memória e as boas recordações do Hotel Grão Vasco, uma das casas da vida do Conjunto “OS TUBARÕES” (Viseu, 1963-1968).
Agradecimentos: Foto GERMANO e HOTEL GRÃO VASCO .
ostubaroes.viseu@gmail.com
porep 20221210