O FIDALGO APRENDIZ (I) - porViseu'60s.
A 21 de Janeiro de 1967, integrando o Sarau dos Finalistas do Liceu de Viseu (66/67), foi apresentada a peça "O Fidalgo Aprendiz" de D. Francisco Manuel de Melo, encenada pelo Professor Osório Mateus. A importância da encenação, dos métodos usados pelo Encenador, o rigor posto nos ensaios, a cenografia usada e modo inovador da representação marcaram definitivamente um grupo de jovens política e culturalmente.
Em homenagem a todos os que nela participaram e a todos os finalistas reproduzimos o texto do António Júlio Valarinho inserido no livro porViseu'60s, retratos de Viseu e da vida musical do conjunto académico Os Tubarões e iremos publicar outros elementos de arquivo em próximos textos.
Na foto: Cima p/baixo, dir/esq.: Jorge Ramalho;
José Leitão, Francisco Carrilho, Patricio e A.Valarinho;
Edite, José Soeiro, Dra.Teresa, Fernanda, Mário V.Lopes, Prof.Osório Mateus e João Albernaz;
Dr. Melo, Luis Dutra, Rosa e Cristiano K.Gomes.
.o.fidalgo.aprendiz.
António Júlio Valarinho
AUTO DO FIDALGO APRENDIZ
“No Sarau dos alunos Finalistas do Liceu de Viseu
O Auto do Fidalgo Aprendiz de D. D.Francisco Manuel de Mello (sec. XVII) surge como segunda escolha do Prof.José Alberto Osório Mateus, depois do Reitor deste Liceu ter censurado a encenação da peça “O Sétimo Selo“ de Ingmar Bergman.
Integrada como principal “atracção” deste Sarau de alunos finalistas, o Prof. José Alberto Osório Mateus, professor de Português neste estabelecimento de ensino, pretendeu construir uma dramaturgia que espelhasse a virtude de saber viver a vida segundo os princípios da ética, cultura, e do aprender a pensar e a imaginar o imaginário ainda por imaginar.
É neste ambiente, que todo o trabalho se desenrola,sendo o motor de toda a dramaturgia, cenografia e encenação a participação activa de todos os intervenientes sem qualquer exclusão – actores, técnico de luzes, músicos, figurinista, cenógrafos, contra rega…
O Prof. José Alberto Osório Mateus era o agente catalisador de uma encenação construída segundo um programa de ensaios pré-estabelecidos logo de início, onde o seu horário era calculado ao minuto.Ninguém podia chegar atrasado.
A adesão de todos foi imediata, sempre rodeada de uma paixão por um projecto que progressivamente nos transformou em jovens que sabiam de antemão, que a partir daqui, nada ficaria como dantes e seria deste modo que de imediato nasceu o CETEV (Centro de Teatro dos Estudantes de Viseu) que com o CITAC de Coimbra e o CETA de Aveiro (Júlio Fino e Júlio Henriques) formavam um triângulo de cumplicidades políticas e culturais.
Do projecto de encenação e das suas dificuldades e cumplicidades os episódios multiplicaram-se como a título de exemplo, por ser talvez o mais divertido, eram as batidas de bateria a cargo do Eduardo Pinto, que colocado num ponto sem visão da cena, tinha de rigorosamente acompanhar o diálogo dos actores, acrescido dos seus movimentos subsequentes, para no momento exacto poder intervir.
O Auto do Fidalgo Aprendiz foi integralmente construído segundo os conceitos do teatro didáctico de Piscator e Brecht, aproximando a personagem principal (D. Gil ) no perfil do português espertalhão que vive sob o signo das aparências, fora da realidade, cheio de dívidas, perseguido e atraiçoado pelos seus credores e “amigos”.
As ambições de D. Gil correspondem às de um fidalgo provinciano, pelintra, (mas que necessita de que o julguem rico), pretendente a entrar na corte sem aceitar a “constante adaptação à realidade da vida“, que o condena no final, ao sofrimento e à desgraça.
“Só da desonra me pesa
Que dirão de mim na corte.
Meu amigo Dom Beltrão
E meu aio Afonso Mendes
Amigo nem amo tendes:
D.Gil tornou-se carvão!
Homens que vos enxeis
Na corte como na bigorna
Vede no que se torna
Qualquer fidalgo aprendiz.”
PERSONAGENS POR ORDEM DE ENTRADA EM CENA
D. Gil – António Júlio Valarinho
Afonso Mendes – Mário Videira Lopes
Beltrão – João Carlos Albernaz
Um Mestre de Esgrima – Jorge Figueiredo Ramalho
Um Mestre de Dança – José Manuel Borges Soeiro
Um Poeta – Adelino Patrício Moreira e Castro
Um Moço de Cavalos – Jorge Figueiredo Ramalho
Uma Comadre – Maria Edite Marques
Um Homem que passa – José Maximiano Leitão
Um Homem das Almas – Cristiano Kruss Gomes
Bateria –Eduardo Pinto
Viola – Luis Dutra Santos Figueiredo”