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Os Tubarões, Viseu, Portugal

Momentos da vida da banda portuguesa de rock "Os Tubarões" (1963 - 1968). Here you can find all about the 60's portuguese rock band "Os Tubaroes" (1963-1968).

28.11.17

50's - Poema do homem-rã - 50's


os tubaroes, Viseu

EP 60-999 A 50 Algerian Paint.jpg

            Decorria o ano de 1967, talvez o mais intenso da nossa carreira musical. Começou com o baile de Finalistas em Viseu a 7 de Janeiro partilhando o palco com o Quinteto Académico e terminou no final do ano no grande Hotel da Figueira da Foz com passagem de modelos Woolmark e noite de fim do ano. Era a seguinte a formação do conjunto: Carlos Loureiro, teclados; Eduardo Pinto, bateria; José Merino, vocalista; Luis Dutra, v.baixo; e Victor Barros, viola ritmo. 

 

TUB 1967 1b.jpg

 

 A 22 de Julho, após as festas de S.Pedro do Sul estreámo-nos no Casino da Figueira com o conjunto João Paulo, e por lá ficámos a tocar até ao final de Setembro com 2 matinées por semana e soirées todos os dias com o descanso às 2ªs feiras. Em meados de Agosto começámos a sentir algum cansaço e ponderámos a necessidade de reforçarmos o conjunto com mais um elemento. Na Figueira da Foz conhecíamos o Vató que convivia connosco no dia a dia, tocava viola tendo contactos musicais com “Os Chinchilas”, tinha gostos musicais próximos dos nossos e também cantava. Começou um namoro que se concretizou em Setembro de 1967.

             Em Outubro vieram as aulas e nós iniciámos o trabalho musical no nosso estúdio em Viseu na Rua Alexandre Herculano. Além da viola Guild Starfire e do amplificador Vox 730 do Vató ainda adquirimos um amplificador Baldwin que era um primor nos agudos.TUB INST 1967 1 c.jpg

 

Ensaiávamos em todos os tempos livres só interrompidos pelas necessidades logísticas de alfaiates e fotos para novos cartazes. Sr. Aires da Foto Aires manifestou muito interesse em fazer fotos do conjunto que, entre outras, deram origem ao cartaz azul.

ESTUDIO 1 a.jpg

Ensaio no Estúdio de Os Tubarões: (e-d): Carlos Loureiro (fora da caixa), teclados; Luis Dutra, viola baixo; Valdemar Ramalho (Vató), viola solo; Victor Barros, viola ritmo, José Merino, vocalista e Eduardo Pinto, baterista.

 

        Continuavam os contactos com as Editoras relativos à gravação do disco. Os grandes activistas desta azáfama eram o Toninho Matos (António Matos) e o seu primo Fernando Pascoal de Matos que concretizaram um contrato exclusivo por 2 anos com a etiqueta Alvorada.

Tínhamos vários originais possíveis de gravação mas a Editora recomendou a inclusão de um tema com letra em português. Esta opção despertou a veia criadora do Vató que musicou o Poema do homem-rã (o 1º Poeta português consagrado a ser musicado por uma banda pop (*). Embora com temas originais suficientes o José Merino, muito inspirado nos últimos temas dos Beatles, criou ainda o Lucky day, e o Baby it hurts, este último bebendo alguma influência nos coros do Holiday, êxito dos Bee Gees.

Foram assim seleccionados os quatro originais, que pode ouvir aqui: 

A gravação foi marcada para o dia 29/11 a partir das 09H30 num Estúdio Alvorada na Calçada de Santana. 

TUBAROES Estudio B.jpg

(e-d) D.Urraca, no Bar do Estúdio e cartaz 1967(4) (Tip.Eden).

 

Seguimos a 28 pela tarde para Lisboa com a D.Urraca carregada com os instrumentos e no dia seguinte, manhã cedo, toca a carregar e montar os instrumentos para um 2º andar sem elevador para o estúdio. Muito curioso foi ter aparecido à porta do estúdio um tal Sr. Barata, da empresa Feira do Disco, empresa que já nos tinha contactado e que queria que anulássemos o compromisso com a Alvorada para assinarmos com eles, opção impossível de satisfazer naquela hora. 

Apesar de muito apressada a gravação não correu mal. Começámos pelo instrumental após o qual fizemos um pequeno intervalo para um café que deu muito geito pois possibilitou a finalização da letra do “Você vai chorar”. Gravámos a parte vocal, foram anotados os detalhes de pós-produção fundamentais no Poema do homem-rã que muito entusiasmaram a equipe do Moreno Pinto e que no essencial deveriam incluir sons de mar e de mergulhadores em três partes da música compostas propositadamente para tal fim. O disco ficou com 4 títulos originais completamente desconhecidos do público, o que naquele tempo não era vulgar pois as práticas dos conjuntos como o nosso era editarem “covers” de êxitos internacionais. O exposto releva a importância que para nós tinha este trabalho cuidado de pós-produção.

O resto da tarde estava reservada para uma sessão fotográfica mas o mau tempo obrigou ao seu adiamento para a manhã seguinte. Este adiamento permitiu dar apoio aos desalojados das cheias em Alverca com a Associação dos Estudantes de Económicas, da qual o Fernando Pascoal de Matos, nosso representante em Lisboa, era membro.

Na manhã de 30/11 fomos até à beira rio em Belém tirar as fotos para a capa do disco. A foto seleccionada foi uma das tiradas junto ao Monumento dos Descobrimentos, coladinhos à sua base, com o Victor com os joelhos encolhidos para todos aparentarmos a mesma estatura. Com a excepção do Vató (1º esquerda) e do Luis Dutra (penúltimo), vestíamos as nossas casacas inspiradas no modelo do Sargeant Peppers.

K Disco A.jpg

 (e-d) Vató, Eduardo Pinto, José Merino, Victor Barros, Luis Dutra e Carlos Loureiro.

 

         Regressámos a Viseu sexta-feira 1 de Dezembro confiantes no entusiasmo da equipa técnica que bem anotou o que pretendíamos na pós-produção e no resultado que a inclusão dos sons do mar no “Poema do homem-rã” iria provocar.

Pretendia-se que o disco viesse a ser editado no Natal mas tal só veio a acontecer no Carnaval de 1968. Quando o ouvimos a 1ª vez o disco numa casa de discos de Viseu constatámos, com grande tristeza, o incumprimento contratual da Editora no pós-produção do disco. Disco B.jpg

 

Andámos sempre bem acompanhados. O nosso Bem Haja aos amigos:

Alberto Martins Carrilho, António Matos, António Xavier de Sá Loureiro, Camané Serpa, Fernando Pascoal de Matos, José Sacadura, Maurício de Sousa e Rogério Dourado.

porep

fonte: (*) Blog IÉ-IÉ