Momentos da vida da banda portuguesa de rock "Os Tubarões" (1963 - 1968).
Here you can find all about the 60's portuguese rock band "Os Tubaroes" (1963-1968).
O Carnaval de 1968 foi a 27 de Fevereiro. Fomos contratados para fazermos o Canaval na Neve pelo Clube Nacional de Montanhismo. Foi um óptimo contrato objecto de leilão entre as várias propostas que nos surgiram, e que se fechou com um
cachet no valor de 30.000$00 mais a estadia.
Saímos de Viseu no Sábado de manhã à frente de uma grande comitiva com vários carros e muitos amigos. Estava um dia muito frio, chovia muito, e por isso optámos pelo trajecto Viseu, Guarda, Covilhã, Torre. Nevava quando chegámos à Covilhã, onde nos concentrámos e almoçámos. A subida para a Serra foi muito difícil porque caía um grande nevão e havia uma grande fila de trânsito nos dois sentidos. Na frente seguia a D. Urraca (a nossa carrinha VW pão de forma) com o Rogério Dourado e o Victor Barros, carregada com os instrumentos. Subia muito lentamente e começou a patinar. As horas passavam e não se avançava. Pedimos ajuda à GNR que, com dois jeeps, conseguiu fazer chegar a D. Urraca ao Clube de Montanhismo, já rebocada e com o motor gripado.
Com o Salão completamente esgotado, nessa noite a festa começou pouco mais tarde mas animou muito e foi até às tantas.
Foi o Carnaval mais divertido da história do Conjunto.
Cá fora a neve caía incessantemente e as estradas continuavam bloqueadas. O Carnaval da Neve realizava-se nas Penhas da Saúde na Colónia Infantil da Montanha, um edifício grande que além do Salão da Festa tinha várias camaratas. Como ninguém podia sair a Organização disponibilizou as camaratas, divididas em feminina e masculina com os tradicionais beliches, separadas por meias paredes que não chegavam ao tecto. Muito tarde e a más horas, depois de o Baile acabar, começavam os diálogos entre os casais separados na busca dos artigos de higiene, que propiciavam comentários cruzados, oportunos, com muito humor e a gargalhada era geral. O Vató andava muito inspirado e saía-se com cada àparte que não deixava ninguém dormir. E como era Carnaval …
Foi de morrer a rir!
Na foto, da tarde de 25 de Fevereiro de 1968, o José Merino, o Carlos Assunção (Os Corsários) e o Carlos Alberto Loureiro brincam na neve frente à Colónia. Pode ainda ver-se o Cooper do Assunção estacionado junto à Colónia.
Por Eduardo Pinto, extracto das memórias de Os Tubarões.
“Eles são seis. Carlos Alberto, Vitor Barros, Luis Dutra, José Alexandre, Valdemar António e Eduardo Pinto formam «Os Tubarões». Viseu orgulha-se do seu jovem conjunto. E eles sabem prestigiar a cidade onde vivem. O seu primeiro disco, agora editado pela Alvorada, tem atrás de si quatro anos de preparação, que foi o tempo que «Os tubarões» deram a si próprios para estruturar o conjunto. E o disco, o EP-60-999, com dois trechos em inglês e outros dois em português da autoria dos elementos do sexteto, dá conta do nível atingido pelo conjunto de Viseu."
Quarta feira dia 21 de Fevereiro de 1968 alguém nos avisa que o nosso disco estava nas montras da Casa Torres e Torres na Rua Alexandre Lobo, Viseu. E largámos tudo para o ir ver e ouvir.
Gravado em Novembro de 1967 num Estúdio na Calçada de Santana estranhávamos nunca termos sido chamados para ouvirmos as provas com a pós-produção acordada, nem darem informações sobre o lançamento do disco. A Editora invocava o trabalho de inclusão dos efeitos especiais em algumas músicas como razões para o atraso. Pretendia-se alguma pós-produção cuidada já que as gravações feitas em Lisboa, pressuponham uma revisão e mistura cuidadas e também previam a inclusão de sons externos, essencialmente no Poema do Homem-rã. O Vató, Autor da música, pretendia que fossem incluídos sons do mar, e sons de um mergulhador a entrar na água a descer ao fundo misturados no refrão balanceado da música, nas partes onde, na gravação editada, se podem ouvir assobios e pequenos gritos. E é de notar que o disco era composto por 4 títulos originais completamente desconhecidos do público, o que naquele tempo, era completamente original pois as práticas correntes dos conjuntos como o nosso era editarem “covers” de êxitos internacionais. O exposto releva a importância que para nós tinha este trabalho de pós-produção, devidamente explicado aos Técnicos do Estúdio, pois iria ser uma inovação adicional que seguramente provocaria alguma reacção no público e nas Rádios (principal veículo de promoção naquele tempo).
No Carnaval o disco aparece nas montras, sem qualquer publicidade e, para grande espanto nosso, sem a pós-produção combinada, facto que causou grande perplexidade e desagrado.
E foi assim a 1ª audição do nosso disco. Ouvimos exactamente o que gravamos directamente para a Tape. Nada foi feito, mexido ou corrigido.