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Os Tubarões, Viseu, Portugal

Momentos da vida da banda portuguesa de rock "Os Tubarões" (1963 - 1968). Here you can find all about the 60's portuguese rock band "Os Tubaroes" (1963-1968).

29.07.10

Figueira da Foz, 1965


os tubaroes, Viseu

Seguramente a carreira de “Os Tubarões” não teria sido o que foi se o Conjunto não tivesse passado pela Figueira da Foz. Foram quatro anos vividos de forma muito intensa em todos os aspectos. De 1965 a 1968 passámos o Verão naquela linda cidade, contactámos públicos com várias origens, convivemos com músicos excelentes com quem muito aprendemos quer em termos musicais, quer em termos de trabalho e fizemos muitos amigos.

 

No Verão de 1964 fizemos a nossa rodagem nas Termas de S.Pedro do Sul, entre festas de fins de turno da FNAT, a Boîte MÓ, os Bailes do Casino e do Hotel Lisboa. Vivíamos acampados junto ao Rio, muito bem alimentados na Casa da D. Margarida Barros ou na Pensão David, já que no acampamento só aconteciam desgraças culinárias e não só. Muitos amigos nos acompanharam e ajudaram nesta altura como o Carlos Barbosa (MÓ e Casino), o Carlos Alexandre (FNAT), o Sr. David e Família (Pensão David), e também o primeiro grupo de fãs de Lisboa lideradas pela Vimena, que mais tarde muito nos apoiou no IÉ-IÉ, para além do Grupo de Viseu, capitaneados pelo José Paulo Girão e o Zé Alberto Rodrigues.

Já esse Verão de 64 estava maduro quando o Alberto Carrilho (o nosso primeiro Manager) foi para a Figueira da Foz na busca de contratos. E muito nos animou com os inúmeros contactos relatados durante as várias semanas que por ali andou a vadiar, mas nenhum se veio a concretizar. Mas foi nesta altura, logo no início da nossa carreira, que sentimos uma forte atracção pela Figueira da Foz.

Em Maio de 1965, após o fim de ano no Hotel Grão Vasco e o Carnaval no Clube de Viseu, conquistámos o nosso principal Amigo e Fã, António Xavier de Sá Loureiro, Pai do Carlos Alberto (teclados), que passou a gerir a nossa carreira e a dar-nos todo o apoio financeiro. Investimos nos instrumentos e guarda-roupa e no mês de Maio demos o nosso primeiro grande concerto no Cine Rossio, durante o intervalo do filme “The Young Ones” com o Cliff Richard e The Shadows.

Munido das fotos deste concerto o Sr. A.Loureiro foi ao Casino apresentar a nossa disponibilidade para ali actuarmos por nossa conta e risco. O Sr. Mendes Pinto, Gerente do Casino, lá ia dizendo que sim sem nunca marcar uma data.

 

Entretanto em Viseu um Empresário local contratou-nos para fazermos o Verão no novo Restaurante e Boîte que iria inaugurar na Marginal da Figueira da Foz e ao qual deu o nome de “O Tubarão”. E o contrato foi feito com base na venda da bilheteira sendo a estreia a 1 de Agosto. Foi um retumbante sucesso desde o primeiro dia. Fazíamos Matinées entre as 17H00 e as 19H30 e Serões a partir das 23H00. O Restaurante esgotava e os horários tornavam-se incompatíveis com o Serviço do Restaurante que era lento, não rotinado e com deficiente controlo. Mas a casa esgotava e constava que as Matinées do Casino se ressentiam pois não tinham uma oferta para este público jovem. E a nós, no Tubarão, não nos pagavam o que começou a criar-nos uma situação muito delicada, a qual chegou à ruptura após duas semanas de trabalho. Mal se soube fomos logo contactados pelo Victor Pais, que já nos seguia de perto, e que, em nome da Administração do Casino, nos contratou de imediato. E no dia seguinte lá fomos para o Grande Casino Peninsular, numa primeira época de quatro que foram vitais para a nossa carreira musical. A primeira matinée encheu e fomos agraciados com fortes aplausos. E o Sr. Mendes Pinto sorria e dava-nos os parabéns neste início de uma relação sempre muito cordial, amistosa e de grande respeito que perdurou até 1968.

Em termos musicais o Casino foi a nossa grande Escola. Encontrámos, convivemos e alternámos com músicos profissionais fabulosos, com rigorosos métodos de trabalho e muito responsáveis. Tocávamos diariamente para públicos diversificados, o que nos obrigava a ter activa uma playlist muito completa, e ganhámos grande flexibilidade na actuação ao vivo. Neste ano de 1965 conhecemos o fantástico Conjunto Italiano “I Don Giovani”, que ensaiava todos os dias e semanalmente recebia pelo correio as pautas dos êxitos mundiais em voga que de imediato apresentavam em público. Conhecemos Artistas Nacionais e Internacionais de grande prestígio como a Gelú, o Duo Ouro Negro, e a Madalena Iglésias, entre outros. Um ano em cheio!

 

O Grande Casino Peninsular da Figueira da Foz.

 

  O Casino da Figueira era em 1965 um grande complexo multidisciplinar de lazer com vários ambientes:

  • A Sala de Chá, mais conhecida como “O Pátio das Galinhas”, situada no átrio do Casino, com um gradeamento alto na parte frontal, uma cobertura em lona, mesas redondas em ferro e cadeiras de verga, era o ponto de encontro de todos: Pais, Filhos, Avós e Netos, e também os amigos e as esposas dos jogadores. Toda a Figueira passava por ali, antes ou depois do Cinema, da Tourada, da Matinée, do Jogo, da Garraiada, ou do Espectáculo.
  • O Salão de Café, redondo, com um pé direito muito alto que culminava em ogiva, com uma grande galeria de 360º, onde se realizavam as Matinées, Garraiadas e os Espectáculos nocturnos durante a semana. Aos Sábados ou nas grandes enchentes servia como 2ªSalão de Baile.
  • O Salão Nobre, construído nos anos 20, de forma quadrada, de estética única com magníficas pinturas e lustres imponentes, enormes espelhos verticais em todas as paredes, foi sempre a verdadeira Sala de visitas do Casino que se engalanava para as noites das Estrelas. Ainda hoje tem várias lápides com o nome dos grandes Artistas que por ali passaram como Amélia Rey Colaço, Amália Rodrigues e também a Maria Clara que imortalizou a célebre canção da cidade.
  • A Sala de Jogo com Roleta Americana, banca francesa, black-jack e outros jogos de casino;
  • A Boîte, para Adultos, com conjunto e variedades próprias,
  • O Cinema;
  • E uma Sala de Exposições sempre com actividades diversificadas nos temas e nas Artes.

O edifício original do Casino é do Séc.XIX e a construção do Salão Nobre data de 1898. A 1ª Concessão de Jogo data de 1928.

 

Rua dos Ciprestes, 6.

 

 

 

Para nos instalarmos durante o Verão alugámos uma casa na Rua dos Ciprestes nº6, 2ºdto, uma transversal à Av. 5 de Outubro, Largo do Carvão, frente à Marina. Tratava-se de 4 assoalhadas onde dormíamos, descansávamos e convivíamos com os muitos amigos que diariamente por ali paravam. Entre muitas brincadeiras de um grupo de jovens na casa dos 16 anos recordamos o muito pão quente que, nas madrugadas, subtraíamos do saco na porta do 1º dto onde, viemos a saber, vivia o Comandante da Polícia, bem como as inúmeras patuscadas sempre muito bem acompanhadas pelo melhor vinho tinto do Dão, produzido pelo Sr.Loureiro na sua Quinta de Pindelo, para não falar das partidas pregadas aos mais dorminhocos.

Só temos boas recordações da Rua dos Ciprestes à qual, no final do Verão, alguns chamavam a Casa dos Ciprestes na Rua de “Os Tubarões”.

 

Os Amigos.

 

Na Figueira da Foz fizemos muitas e grandes amizades as quais perduram até aos dias de hoje.

Recordamos o Grupo da Figueira liderado pelo Victor Pais, com os irmãos Beja com a sua Vela Solex, o Zé Raio e o seu Fiat 600, o Cró e ainda as Primas Seco, a Manuela Bolacha e a Fernanda. O Grupo de Coimbra liderado pelo Né Brinca com o seu Hilman Imp; O Grupo muito animado de Maiorca com as manas Pontes de Sousa, o Grupo de Lisboa com as Manas Pétinhas, o Grupo Espanhol liderado pela Api e pelo Manolo e os Holandeses liderados pelas Yoko.

Muitas e boas Saudades!!!

E não podemos esquecer os lugares por onde passávamos como pelos Bifes do Nicola, os pregos da Sacor, as Paellas na Praia, a Serra das Óptimas Viagens, o Clube de Ténis, as festas na casa do Victor Pais, etc ….sem esquecer o amendoim bem torradinho.

 

Figueira da Foz, muito obrigado !

 

por eduardo pinto

O nosso bem haja ao Victor Barros