Momentos da vida da banda portuguesa de rock "Os Tubarões" (1963 - 1968).
Here you can find all about the 60's portuguese rock band "Os Tubaroes" (1963-1968).
O nosso reportório era composto por centenas de músicas. Ao tempo todos os Conjuntos tocavam "covers" de sucessos, imitando os conjuntos que os inspiravam, dos The Shadows aos Beatles e também alguma musica tradicional, normalmente instrumental, tal como tangos, valsas, chá-chá-chá, slows, ...etc.
A vida dos conjuntos era alimentada nas Festas, sempre com Bailes, onde tinhamos de tocar todo o tipo de músicas para agradar a todos os tipos de público. Lembramo-nos de um Casal de Idade que gostava muito de nos ouvir e, para expressarem o seu contentamento a quem de nós falavam, diziam " eles até tocam La Comparsita".
Expomos aqui a Playlist de alguns dos principais êxitos que tocámos na época:
O Café Rossio, na Rua Formosa em 1966. Foto Germano.
O Café Rossio.
O Café Rossio era uma instituição na cidade de Viseu por onde passava toda a gente.
Lá tudo se sabia, da cidade do país ou da região. Do poder ou da oposição.
Para nós, estudantes, subir ao primeiro andar era crescer, ser quase adulto, poder iniciar o fumar, o bilhar, e assistir às apostas dos matulões, meio-heróis/vilões, que falavam alto, muito fanfarrões.
Recordamos boas memórias do Café Rossio que nos inspiraram nestas palavras:
Café Rossio:
O Lugar !
O Café, a conversa, o estar,
os do Contra, os do Poder,
os das tricas, e os do morder,
os do bem e do mal dizer,
e os do comer ...
e os do fino, e os da televisão.
Tudo era redondo naquele r/c,
as mesas até aos pés,
as travessas dos cafés,
as cadeiras e o corrimão,
até a esquina e o Balcão.
Por aquele chão de madeira
passava a cidade inteira.
O Doutor e a menina,
o "Formidável" e a Flausina,
o Liceu e a Escola,
a Política e a Bola.
Vazio, vazio,
só nas noites de verão.
Quando o calor apertava,
a cidade passeava
horas a fio,
num louco rodopio,
nesse grande salão
que era o Rossio.
Cada um na sua mão,
quase todos num sentido,
e poucos na contra-mão.
E o Bilhar !!!
Quem não se lembra da atmosfera daquele 1º andar ?
Nos terrenos da Feira de S. Mateus foi construído nos anos 30’s um bonito edifício de arquitectura modernista, cujas traseiras davam para a Central Eléctrica localizada na rua da Ponte de Pau. Tratava-se do Salão de Chá dos Bombeiros Voluntários de Viseu (BVV), seguramente o maior e o mais bonito edifício, o de maior destaque e prestígio no recinto da Feira de S. Mateus, com um piso único elevado ao estilo de uma “mezzanine”. Tratava-se de um amplo Salão com duas frentes rasgadas para o recinto da Feira de S. Mateus e que durante o período da feira, todo o mês de Setembro até às vésperas da data de início do ano escolar a 6 de Outubro(+-), era utilizado pelos Bombeiros Voluntários de Viseu para a prestação de serviços de restauração servindo o montante apurado como reforço de fundos tão necessários ao suporte das suas actividades totalmente voluntárias.
Os Bombeiros Voluntários de Viseu sempre tiveram muito valor, um enorme prestígio na cidade e eram um foco de entusiasmo e adesão de muita juventude que, voluntariamente e com grande orgulho, aderia a tão nobre e justa causa de ajuda à comunidade. Além das suas actividades voluntárias de socorro às populações os BVV tiveram no passado uma grande intervenção cultural nomeadamente através de um Grupo de Teatro Amador que levou à cena no Teatro Viriato várias peças algumas delas acarinhadas pela nossa conterrânea Mirita Casimiro.
Pois durante a Feira de S. Mateus, nos anos 60’s, o Salão de Chá dos Bombeiros Voluntários era o local mais “chique” e mais cobiçado da Feira. O espaço tinha atributos únicos como os disputadíssimos “toilletes” (uma fragilidade no “adn” da Feira que se mantém), as mesas viradas à rua que permitiam observar e comentar os passeantes e visitantes, assistir aos espectáculos, gincanas e outras iniciativas como se se estivesse num camarote de um teatro. Havia serviços de chá com torradas ou farturas, o branco a copo, ou o famosíssimo Caldo Verde com a broa fresca de Vildemoinhos. Além destes serviços directos este Pavilhão também era o mais seguro refúgio sempre que a chuva pregava as suas partidas, o que não era tão raro quanto isso.
Todo o serviço no Salão de chá era feito pelos bombeiros voluntários nos seus tempos livres, com o traje azul de bombeiro e os seus reluzentes botões de latão amarelo. O Salão, à esquerda de quem entrava, tinha um enorme e altíssimo balcão de serviço, com vista e controlo de todo o espaço. À direita deste, no canto frontal à entrada, o estrado para a Orquestra. À esquerda uma entrada que dava acesso aos famosos “toilletes” e ainda a uma Copa mais recatada e só para “Maiores” onde se podia beber um copo (branco, tinto, cerveja, Bussaco ou pirolito), acompanhado por um petisco (pasteis de bacalhau, panados, enguias, empadas ou rissóis, …).
Nos dias principais da Feira havia uma cerrada disputa pelas mesas viradas à rua e não era raro assistir-se à marcação presencial com horas de antecipação.
E aos Sábados?
Aos Sábados havia “Chá Dançante” no Salão de Chá dos Bombeiros Voluntários de Viseu (tempos houve que eram às 4ªs e sábados). Eram quatro bailes com grande procura, quase sempre esgotados que punham a cidade numa grande agitação. Os cabeleireiros entupiam, os sapateiros engraxavam, os perfumes esgotavam, e as mais jovens debutavam numa grande comoção. Ir ao Baile dos Bombeiros era uma grande emoção!!!
Ao princípio os bailes eram animados pelas orquestras locais como a Orquestra do Cine Jazz, a orquestra do Mário Costa, Os Diamantes, entre outras. Na época de maior sucesso já eram as principais Orquestras Nacionais como a de Shegundo Galarza, Toni Hernandez, Costa Pinto, e até o Conjunto Italiano Manino Marini, que fez várias épocas em Portugal com os grandes sucessos românticos e únicos da música italiana.
E hoje, Viseu, o que é feito de tamanha animação?
Os chás dançantes dos Bombeiros Voluntários foram, para mim, uma das fontes de inspiração para o que é hoje o conceito de “Os Melhores Anos”.